Te juro, a pior parte de não trabalhar fora não é o dinheiro e sim o fato de ficar presa em casa com seus próprios pensamentos. Ter tempo pra pensar nas merdas que as pessoas fazem e que são.
Tenho odiado ficar dentro de casa. Tenho que segurar a raiva, choro, a angústia, vazio e todas as coisas ruins. E quando não seguro pareço ser a razão de todo o mal para as outras pessoas.
Nesse dilema de ser ou não ser eu mesma, acabando me confundindo, me perdendo... E já não sei mais quem sou de fato. Estou me transformando na máscara socialmente aceitável na sociedade. A máscara que escolheram pra mim.
Não sei mais sentir. Quando sinto, escondo.
Apática, somente apática.
Fernanda já sabia que isso ia acontecer, desde o começo. Porém, parecia tanto que dessa vez iria ser diferente que se deixou levar pela breve alegria do momento.
Quando tudo começou a dar certo ela ficou feliz, claro. Mas logo bateu a realidade e ela pensou por um tempo "Nossa, quando vem a bomba nuclear?", tinha noção até perdê-la pois o sentimento de satisfação era muito bom.
A queda foi maior, sobrou poucos pedaços inteiros nessa brincadeira e agora teria que se reconstruir de mais uma queda. Sinceramente, estava cansada de quedas. Cansada de todos se sentirem no direito de pisar nela. Cansada das pessoas brincarem com os seus sentimentos.
Não fui feita para viver nesse mundo. Não fui feita para ser aceita nesse mundo.
Sou enganada por mim mesma todos os dias. Penso que finalmente estou dentro do nicho chamado "normal". Doce ilusão.
Sinto falta dos meus comprimidos de rivotril todo dia, cada dia mais... Sinto falta principalmente do meu rivotril em forma humana. Agora tenho que me contentar com um chá calmante, quando na verdade precisava injetar o mais forte calmante em minhas veias.
Todos já percebem quando não estou bem e só engolem minhas desculpas pra não me deixar pior. Todos já perceberam que não estamos tão bem assim também, e engolem as minhas desculpas mais uma vez.
Fazia uns bons anos em que não tinha pesadelos e falava enquanto dormia. A bonança passou e a tempestade voltou. Como posso pertencer a esse mundo se sempre sou a raiz do problema? Se odeio brigas mas sou a raiz de todas? Se sou uma pessoa que não sei o que é comunicação? Se sou ansiosa, perfeccionista, pessimista, zero auto-estima e egoísta?
Só queria entender meu subconsciente que continua se esforçando em tentar quando já sabe que de fato sempre vou estar sozinha. Senão agora, logo.
Ainda passa pela minha cabeça, afinal como o irreal é mais importante que o real? Por que tem mais valor? Pra mim, soa absurdo. Para os outros, pode ser que o irreal seja mais belo, porque afinal de contas nada no mundo real parece ser tão bom pois não têm olhos para isso.
"Shhh. Eu quero ver minha novela!", essa é a mais ouvida de todas. Enquanto isso sua neta com depressão está animada pela primeira vez em uns bons anos, falando animada ao telefone, mas tem que ficar bem quieta e se conter. Realmente soa meio injusto.
"O que? Anh?", quando se está no computador ou no celular sem ao menos prestar atenção ao que acontece ao seu redor. Por exemplo o filho pequeno puxando a saia da mãe, chorando, batendo nela de raiva e ela só dizendo "Quieto menino, para com isso", quando na verdade ele só quer um pouco de atenção. Mas ela está muito ocupada dentro de um mundo muito mais interessante que não existe.
Porque viver se vamos passar a vida hipnotizados por coisas que não existem? Sem aproveitar a vida e os momentos de verdade? É uma merda.
Ninguém se questiona sobre isso?
Deve ser porque o anormal se tornou normal demais, infelizmente.
Aline teve todas as chances de aprender a ser forte e lidar com críticas. Porém, para ela era tão mais difícil, doloroso e confuso.
Passou o seus vinte e três anos sendo criticada com vigor, vez ou outra um elogio. Ela gosta de acreditar que essa atitude era para prepará-la para o mundo real. Infelizmente o efeito foi o contrário, a despreparou, a amedrontou. Fez com que a maior crítica fosse ela mesma, afinal quanto mais crítica ela fosse menos chance de errar e mais de ser perfeita.
Não estava preparada para o mundo real. Nunca esteve. Sabia o quanto dentro de casa tinha sido cruel, logo não queria mais crueldade lá fora. Era cruel com si mesma, pois preferia assim do que ouvir dos outros.
Anda tão machucada. Se sente tão despreparada. Tão mais insegura, se é que isso é possível. Tão imperfeita. Será que chegará o dia em que Aline não irá ver uma crítica como ofensa?
Amanda tem que mexer em algumas coisas em seu cérebro. Talvez acabar com uns pedaços dele. Amanda era meio doidinha. Tinha crise de ansiedade. Mal conseguia respira nessas malditas crises. E tinha gatilhos que a faziam ficar assim.
O gatilho mais merda que ela não consegui se desfazer era não ligar o foda-se. Ela usava expressões como "Estou cagando e andando para as pessoas" "Ah, ninguém paga minhas contas", mas isso era só ela se fazendo de forte, no fundo era só uma mentira que ela tentava acreditar.
Amanda buscava aprovação em tudo e em todos. O tempo todo. Todos tinham que aprová-la, entendê-la e acolhê-la. As pessoas geralmente não conseguiam nenhuma dessas alternativas. Ela realmente nunca fora de aprovar. Porém, sentia que pegava as únicas forças que lhe restavam para ser aprovada invés de usar para se curar dessa confusão que era sua mente e alma. Resultado? Só declinava no processo de cura cada vez mais, e nunca fora aprovada.
O dedo foi apontado várias e várias vezes. Seus possíveis defeitos foram muito graves para aceitar. Fora ofendida, não só uma vez. Perdeu as forças. Não fora aprovada.
Pelo jeito Amanda vai morrer tentando. Não será aprovada. E muito menos feliz. A não ser que ela se aprove em primeiro lugar.
É tão bom se sentir útil depois de anos de inutilidade. É tão bom se sentir parte de algo. É tão bom se sentir capaz. É tão bom se sentir radiante e animada em um lugar. É tão bom não ter tempo de pensar nas besteiras do dia-a-dia ou ter contato com as pessoas que trazem essas besteiras à tona.
É estranho, mas é tão gostoso se sentir feliz, tranquila e na paz fora do casulo. Tão gostoso sentir essa metamorfose de lagarta a borboleta.
Não saí do casulo ainda. Não estou completamente dentro também. Estou na metade do caminho. Já estou sentindo uma pontada em minhas costas. São as minhas asas começando a nascer.
Assim que me transformar, posso finalmente voar.
Porque as pessoas insistem tanto no perdão quando os outros fazem coisas imperdoáveis? Porque insistem mesmo quando você cansou de dar chances? Chances essas que foram desperdiçadas e jogadas no lixo. Porque insistem mesmo quando o destino e o universo resolvem se meter e jogar a maior chance de todas e mesmo assim ela ser ignorada? Além de ignorada, não se enxergou a chance, não se enxergou o momento, e nem se ouviu o universo sussurando "É agora ou nunca. Cuidado, você vai perdê-la."
Estava por um fio de perdê-la. Não perdeu.
Nada passou pela sua cabeça e coração. Nada mudou.
Nem sequer um pedido de desculpa. Nem uma lágrima.
Nem tem como perdoar.
Acho que no fundo nem ela se perdoa.
Quem diria que depois de um ano tão difícil, uma montanha-russa de sentimentos e problemas, numa noite qualquer Marina está emocionada ao pensar o quanto esse menino é maravilhoso, o quanto ela o ama, a barra que ele aguentou para os dois estarem aqui.
Ela poderia dizer que está carente e apaixonada como não ficara há um bom tempo. Parece até o comecinho das borboletas no estômago há quatro anos.
Marina só queria um abraço gostoso e um beijo pra chamar de seu. Olhar nos olhos de Caio com os seus olhinhos brilhando e com aguinha, prestes a chorar de emoção e dizer "Te amo. De verdade. Incondicionalmente.".
Marina agora sente uma paz tão gostosa ao pensar nos dois, nesse presente maravilhoso e um futuro melhor ainda. Ela parece estar enxergando os detalhes que antes passavam despercebidos e está os valorizando.
Amigos, amantes, parceiros.
Eles são um time.
No meu aniversário eu tive uma atitude que estou repensando no momento. Foi uma atitude bem infeliz, diga-se de passagem.
Fiquei triste e chateada porque só foram uns gatos pingados no meu aniversário. Não dei o devido valor a esses gatos pingados. Pensei mais nos que não foram ao invés de ficar feliz pelo os que foram e fizeram da minha festa uma festa e meu aniversário um dia feliz.
Mas me dei conta, um pouco tarde, que os gatos pingados são sempre os que salvam o meu dia. Afinal, qualidade não é quantidade, certo? Para ser bem sincera, e talvez possa soar exagerado para alguns, eles são a família que me falta, a família que sempre me faltou. Eles preenchem vários buracos que foram deixados pela minha vida e nunca foram preenchidos em vinte e três anos de idade.
Meu dia pode estar uma merda, mas lá estão esses gatos pingados para transformá-lo completamente. Eu me distraio dos meus problemas, consigo dar risada, me divertir e principalmente viver um pouco do presente nem que seja por umas horinhas.
Só agradeço por estarem na minha vida.
Vocês me dão força e prazer em existir.